O novo coronavírus é zoonose?
Diante do cenário atual de pandemia, surgem diversos questionamentos de setores distintos sobre suas relações com a possibilidade de infecção por COVID-19. Desde o início do ano ocorreram muitos movimentos para elucidar os riscos, severidade, forma de transmissão e controle deste vírus. Para a população em geral, uma das grandes dúvidas é a respeito do papel de espécies não humanas neste cenário.
Os animais podem transmitir a doença aos humanos?
Existe uma variedade de espécies de coronavírus (CoV), as quais acometem diferentes organismos. Tem-se uma espécie bastante específica para cada tipo de hospedeiro, como os cães, gatos, bovinos, baleias, suínos, cavalos, entre outros animais. E tais espécies não são capazes de acometer humanos, ou seja, o CoV não é classicamente zoonótico.
O CoV patogênico característico de suínos, por exemplo, causa gastroenterite nesses animais. Outra espécie de CoV é capaz de causar a peritonite infecciosa em felinos. Tais enfermidades são conhecidas há muito tempo, possuem vacina e não são zoonoses.
O que se sabe hoje é que a variação COVID-19 do coronavírus, que infecta humanos, também pode infectar animais, porém o contrário não acontece, ou pelo menos ainda não existem evidências suficientes que demonstrem a capacidade de disseminação da doença pelos animais (RODRIGUES et al., 2020).
Como o vírus se manifesta em animais infectados?
Poucos casos envolvendo felinos e cães testaram positivo para COVID-19, sendo que todos envolveram o contato destes animais com humanos infectados.
Em Março deste ano o cachorro de um tutor infectado em Hong Kong testou positivo para o vírus, porém não apresentou sintomas. Já no mês seguinte, em Nova York, um tigre do zoológico de Bronx apresentou sintomas da doença.
As poucas ocorrências sugerem maior suscetibilidade de felinos para manifestação clínica da doença e caráter assintomático em aves e suínos (RODRIGUES et al., 2020).
Como o organismo causador da COVID-19 alcançou o homem?
Muito se discute a respeito de uma “saúde única”: uma abordagem que leva em consideração ações para a promoção do equilíbrio ambiental, animal e humano em conjunto. Tem-se como entendimento atual que são as intervenções do homem no equilíbrio ecológico o motivo dos surtos de doenças epidemiológicas (OLIVEIRA; CAMPOS; SIQUEIRA, 2020).
Os principais problemas e riscos listados através da matriz GUT deste projeto são frequentemente abordados pelos pesquisadores como causas da emergência e reemergência de zoonoses, mas ainda recebem pouca atenção das autoridades. Entre elas, é possível citar o hábito de consumo de animais exóticos, destruição de seus habitats naturais, a urbanização e a globalização.
Existe alguma evidência de que o novo coronavírus seja uma zoonose?
Como já mencionado, existem poucos casos de transmissão de COVID-19 (SARS-CoV-2) de humanos para animais e nenhuma comprovação de que tais animais possam transmitir a doença.
Historicamente, os morcegos são conhecidos como os principais hospedeiros de espécies de CoV transmissíveis para humanos (CHAVES; BELLEI, 2020). Em menos de duas décadas já ocorreram duas epidemias zoonóticas nesse sentido:
- SARS-CoV (2002), a síndrome respiratória aguda grave, que emergiu na China.
- MERS-CoV (2014), conhecido como síndrome respiratória aguda grave do Oriente Médio.
Fonte: Organização Mundial da Saúde.
A comunidade científica está em alerta e em constante investigação para as possibilidades de novos surtos de coronavírus com origem de morcegos, para prevenir possíveis novos surtos como o que estamos vivendo no momento.
Por enquanto, como prevenir?
Ainda há pouco conhecimento no que diz respeito aos mecanismos de transmissão de COVID-19. Por este motivo não foram desenvolvidos protocolos de controle mais específicos e baseados em evidências (RODRIGUES et al., 2020). Sendo assim, mesmo sem a total compreensão do exato papel dos animais nesse sentido, o mais recomendável é manter as medidas de higiene, antes e após o contato com os animais de companhia.
Fonte: Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo.
Referências:
[1] RODRIGUES, Katarina Mirna Marinho Tenório et al. PARTICULARIDADES DA INFECÇÃO POR DIFERENTES ESTIRPES DE CORONAVÍRUS EM ANIMAIS DOMÉSTICOS E DE PRODUÇÃO. Revista Desafios, Palmas, v. 7, n. 7, p. 34-37, 22 abr. 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.15906.
[2] OLIVEIRA, Marcel Nunes de; CAMPOS, Maria Amávia de Souza; SIQUEIRA, Thomaz Décio Abdalla. CORONAVÍRUS: GLOBALIZAÇÃO E SEUS REFLEXOS NO MEIO AMBIENTE. Universidade Federal do Amazonas – Ufam, Amazonas, v. 1, n. 4, p. 1-12, jul. 2020.
[3] CHAVES, Tânia do Socorro Souza; BELLEI, Nancy Cristina Junqueira. SARS-COV-2, o novo Coronavírus. Revista de Medicina, v. 99, n. 1, p. 1-4, 27 fev. 2020. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i1pi-iv.
[4] DA-SILVA, Elidiomar Ribeiro; COELHO, Luci Boa Nova. Sobre incursões da fauna silvestre a áreas urbanas durante a pandemia do novo coronavírus. A Bruxa, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 1-13, 01 abr. 2020.